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        Espécie já considerada em vias de extinção na natureza, a Cattleya granulosa tem como habitat o litoral do Rio Grande do Norte que é um dos mais belos do Brasil. Praias paradisíacas, cenários deslumbrantes, lagoas cristalinas, dunas e matas de beleza singular transformam o litoral do Rio Grande do Norte em um dos principais alvos das atividades econômicas da região Nordeste.

          O atual modelo de desenvolvimento traz consigo problemas ambientais que vão de encontro à preservação da vida que pressionam o ecossistema local rumo à degradação.

       A instalação de lavouras de subsistência, vitais e imprescindíveis, praticadas de maneira rude e arcaica, baseada na limpeza e queimada da área de cultivo, acabam por arrasar, impiedosamente todas as espécies existentes nas áreas de duna (restinga) cujo solo, formado por areia (cristais de quartzo) é pobre e deficiente de nutrientes.   

         A monocultura de coco, caju, cana-de-açucar e de reflorestamento não respeita limites, que, na ânsia de promover o aumento da produção e de proteger as culturas contra as pragas locais, arma-se de pesticidas de alto poder de destruição e contaminação.

 

 

 

 

             A pecuária regional das áreas de restinga, habitat da Cattleya granulosa, baseada na criação de cabras, exerce um impacto grave sobre os indivíduos de Cattleya granulosa. É muito comum observarmos em áreas inteiras nas quais ocorrem a Cattleya granulosa, a presença de exemplares totalmente dilacerados pelas mandíbulas famintas desses predadores, que por falta de opção alimentar, exterminam touceiras enormes de plantas que levaram anos para crescer.

          Mas sem dúvida o pior inimigo das áreas de restinga é o desenvolvimento da fronteira urbana.  As cidades ou aglomerados humanos existentes ao longo do litoral do Rio Grande do Norte vem sofrendo grandes mudanças provocadas pela valorização crescente das áreas para implantação de grandes empreendimentos ou simplesmente para moradia.  O próprio fluxo de pessoas para essas áreas ocasiona impactos ambientais graves tais como a presença do lixo, do ruído e da degradação do meio ambiente como um todo.

               Este é o preço do desenvolvimento sem sustentabilidade baseado no consumismo. A falta de políticas públicas de incentivo à renda nas áreas mais carentes, para ajudar a compor de maneira correta o tecido social da região, e que deveria ser vital e imprescindível, força a prática de atividades de exploração e depredação da restinga, tais como a extração madeireira e a coleta predatória da Cattleya granulosa para venda direta ao consumidor.

           Não há controle e não há como impedir esta resposta imediata à sobrevivência. Outro agravante que podemos notar: todas as áreas de habitat monitorados de Cattleya granulosa são particulares ou pertencem à empresas. Portanto, num futuro próximo, vamos ter que nos acostumar a ver somente pelas fotos o que um dia fora um dos mais belos espetáculos que a natureza produziu. 

 

 

                Com relação à Cattleya granulosa tem-se que levar em consideração que as cores das flores e a sua rusticidade, muitas vezes não oferecem um atrativo do ponto de vista decorativo, ou seja, é uma planta que não oferece potencial imediato de maneira a introduzir a espécie  para a produção das plantas e de suas flores para o mercado de decoração e floricultura.   Além disso, a dificuldade de se obter êxito em cultivos fora da região litorânea é acentuada, isso faz com que a Cattleya granulosa se torne uma espécie com tendência à extinção por falta de reprodução laboratorial  (artificial) em grande escala, diferente de como acontece com outras espécies de orquídeas.

                Levando em consideração  o desaparecimento das matas de restinga de maneira acentuada como vem ocorrendo nos últimos anos, podemos admitir que uma das maneiras de salvar as plantas seria a coleta racional de exemplares localizados próximos às áreas sujeitas à depredação.   Porém este é um assunto polêmico, que muitas vezes vai de encontro ao pensamento conservacionista de algumas pessoas.   Não há outra solução viável, de tal forma que, podemos comprovar nos últimos anos que com a devastação das matas, muitas espécies nativas não existem mais.    Lembrando que a coleta de plantas nativas de áreas sujeitas ao desmatamento pode ocorrer mediante autorização expressa da SUPERINETENDÊNCIA REGIONAL DO IBAMA.    É CRIME O TRANSPORTE E COLETA DE ORQUÍDEAS NATIVAS SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO.

                Assim pode-se fechar a idéia da coleta racional com a seguinte afirmação da Sra. Anita Blossfeld*:"...a experiência me ensinou que a coleta não acaba com as orquídeas e nem com outras espécies por que a natureza as repõe.   O corte das matas e o fogo, estes sim, liquidam tudo."

              Finalizando, assim como ocorreu com a Cattleya schilleriana, planta nativa da Bahia, que está extinta na natureza que é amplamente cultivada e popularizada, poder-se-ía popularizar, conservar e proteger a Cattleya granulosa para que no futuro fosse conhecida por todo o mundo orquidófilo, bem como fazer projetos de repovoamento da espécie em áreas de restingas protegidas, evitando o seu extermínio.

 

 

 

*Anita Blossfeld cultiva orquídeas há mais de 50 anos, ela e seu marido Harry Blossfeld, um pesquisador incansável, vieram da Alemanha para o Brasil.    Harry percorreu toda a América Latina atrás de espécies de orquídeas e foi autor do livro "JARDINAGEM", referência obrigatória para os profissionais do ramo.

O paradoxo do desenvolvimento e a preservação da Cattleya granulosa no Rio Grande do Norte.

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