Cattleya granulosa e os vírus
Um assunto muito importante que causa muito alvoroço no mundo orquidófilo são as doenças de causa víral. Os vírus são organismos presentes em todos os tipos de ambientes cuja principal característica é a dependência de um hospedeiro para sobreviver. Em outras palavras os vírus quando contaminam uma orquídea podem causar uma série de mutações nas mais diversas estruturas da planta. Uma planta pode apresentar sintomas ou não, ou seja, podemos ter situações em que as orquídeas podem estar contaminadas porém não apresentam sintomas da doença durante o seu desenvolvimento vegetativo. Por isso é sempre importante esterilizar tesouras e facas de poda para evitar a propagação direta do vírus pelo plantel. O vírus mais comum encontrado em orquidários do Brasil, e vale ressaltar que é muito difícil existir um estabelecimento isento 100% dos vírus, é o VÍRUS MOSAICO DO CYMBIDIUM. Basicamente a atuação do vírus MOSAICO DO CYMBIDIUM está nas folhas. Dentre as características mais comuns do sintoma do VÍRUS MOSAICO DO CYMBIDIUM estão as manchas pretas circulares ou em forma de mosaico na parte superior das folhas nas orquídeas de folha grossa (Cattleya e seus híbridos), encarquilhamento ou deformações nos brotos novos, desenvolvimento mais lento que as demais plantas da mesma espécie, perda da capacidade de recuperação rápida contra injúrias e estresse da planta (queima de folhas, excesso de umidade, insolação, ataque de fungos, falta de água, etc), deformações nos padrões cromáticos das cores das flores durante as florações, redução do tempo de duração das flores e deformações nas estruturas das flores .
Muitos técnicos e agrônomos sugerem que uma planta contaminada dever ser eliminada do plantel para evitar a contaminação geral, porém em certos casos, verificamos que é possível o tratamento das mesmas com adubos químicos. Como já se sabe, os vírus atuam diretamente na folha, ou seja, passam a dificultar a circulação da seiva e consequentemente reduzem a escala de crescimento e recuperação da planta. Quando utilizamos os adubos químicos folhares, os mesmos tendem a ser absorvidos pela área que mais sofre com os vírus, as folhas. Sendo assim, o adubo é absorvido intensamente pela planta não só pelas raízes, mas por todas as partes da planta fazendo com que a planta recupere o seu vigor mesmo com a presença viral.
Um boa sugestão de cultivo para plantas com vírus é o cultivo em estacas de madeira imitando-se rigorosamente as condições de desenvolvimento da planta na natureza, impedindo que a planta sofra injúrias causadoras de stresse. Não podemos esquecer que uma floração por exemplo constitui um estresse para planta, dessa forma é bom manter a planta sempre hidratada nesses períodos.
Lembrando que além do corte direto com instrumentos contaminados, os vírus também se propagam através da água de irrigação, por substrato contaminado (incluíndo madeira contaminada) e por insetos picadores (trips por exemplo).
Por experiência, lembramos que orquídeas de flores lilás tem a tendência de apresentar sintomas nas flores (borrão) com mais facilidade que as demais e as orquídeas de flores amarelas dificilmente apresentam sintomas nas flores.
Em meados de 2012, depois que encontramos alguns exemplares de orquídeas com a presença de vírus dentro do orquidário, começamos a notar determinados comportamentos dos vírus compatíveis com exemplares de plantas de Cattleya granulosa no habitat. Após alguns meses de observação das plantas na natureza, constatamos a presença de vírus em plantas nativas de Cattleya granulosa em locais cuja presença humana não era significativa, ou seja, os vírus não foram inseridos no ambiente por alguma ação humana, o que nos levou a perceber que mais de 70% das plantas encontradas em uma determinada região apresentavam um ou mais sintomas de vírus.
Isto nos leva a crer que o cultivo da Cattleya granulosa está associado ao cultivo de plantas com a presença de vírus, motivo pelo qual a planta não deve ser exposta a injúrias que venham a justificar a ocorrência de estresse na planta.
A perda de exemplares de Cattleya granulosa geralmente está associada ao excesso de umidade, que traz ou favorece o desevolvimento da podridão parda, doença bastante comum na planta.
Esta observação é de suma importância quando um exemplar de Cattleya granulosa é inserido em uma determinada coleção ou plantel. Recomenda-se que a mesma não seja colocada próxima a exemplares de Cattleya labiata ou de plantas com coloração lilás para evitar a contaminação das plantas por ação da irrigação. Evitar cortar partes de plantas de Cattleya granulosa com instrumentos sem a devida higienização, que pode ser feita com água sanitária.
Sendo assim, podemos justificar que o cultivo de Cattleya granulosa torna-se uma tarefa de observação constante das características ambientais do habitat natural, ou seja, quanto mais próximos às condições da natureza for o cultivo, maior as chances de sucesso.
Lembramos a todos que este texto tem caráter apenas informativo, ou seja, não fizemos o estudo completo de identificação dos vírus presentes em exemplares de Cattleya granulosa na natureza pois acreditamos que muitos desses vírus ainda podem ser novidade para ciência motivo pelo qual a análise detalhada deverá ser realizada por profissionais qualificados interessados no aprofundamento do assunto.
A presença dos vírus nas folhas da Cattleya granulosa na natureza através das manchas pretas na parte superior das folhas. | A presença de vírus nas folhas evidenciada pelas deformações e pelas manchas nas folhas em tom de branco (ausência de clorofila). Além do fraco desenvolvimento da planta perante as outras encontradas no mesmo local. | Manchas pretas na parte superior das folhas e a quantidade de pseudo-bulbos mortos abaixo das folhas evidenciando um sinal que fraqueza na planta promovido por algum estresse na planta. |
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Floração de Cattleya granulosa no habitat natural com sintoma de vírus evidenciado pelos borrões ou manchas nas cores das pétalas e sépalas das flores. | Os riscos nas pétalas desse híbrido em tom de branco no sentido do meio da flor para fora são evidências de contaminação dos vírus. | Presença de vírus evidenciada pelas deformações gerais na flor (labelo e pigmentação disforme) |
Presença de vírus evidenciada pela deformação geral da flor e pela pigmentação disforme das cores nas pétalas e sépalas. |